sexta-feira, 21 de março de 2014

Um punhal sobre o Paraíba do Sul

Por Arthur Soffiati

Publicado na Folha da Manhã, Campos dos Goytacazes, 21 de março de 2014

A destruição da Bacia do Paraíba do Sul começou efetivamente no século 18. Primeiro, veio o desmatamento, expondo as margens à erosão e assoreando os leitos com sedimentos. 

Em seguida, veio a agropecuária. No século XX, a bacia se transformou numa das áreas mais urbanizadas e industrializada do Brasil. 

Aumentou, então, a demanda de água para abastecimento público e empresarial. Ao mesmo tempo, os rios da bacia se transformaram em cloacas, ao serem poluídas pela agropecuária, indústria e cidades.

Barragens para regularização, transposição e geração de energia foram construídas no rio principal e nos afluentes sem nenhum planejamento que contemplasse toda a bacia. 
A mais conhecida delas é a de Santa Cecília, que transpõe grande volume de água para o pequenino Rio Guandu, a fim de abastecer grande parte da cidade do Rio de Janeiro. 

Essas intervenções nocivas e a introdução de espécies exóticas são responsáveis pelo empobrecimento da biodiversidade nativa e pelo comprometimento da navegação, da pesca, da qualidade e da quantidade de água. 
Os efeitos já são percebidos na foz do rio, onde as transformações ameaçam fechar a desembocadura ou salinizar a água doce.

Agora, São Paulo corre o risco de ficar sem água pelo aumento do consumo ou pelas estiagens prolongadas que afetam os reservatórios abastecedores. A solução encontrada pelo governo estadual é a captação de água na Bacia do Paraíba. 
Se tal solução for aprovada, o Paraíba será novamente apunhalado. Rio de Janeiro, Minas Gerais e o Ministério Público Federal devem invocar o princípio da precaução: na dúvida, São Paulo não deve ultrapassar.

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